quinta-feira, 23 de abril de 2009

420 ml de Jardins e Flores


As palavras começam a escorregar da mente, vazam líquidas pelo corpo, escorrem pelos dedos e pingam suaves no teclado frio do meu computador. Alguém me chama pra dançar, a tela brilha. Mais um cigarro, e outro, outro. Um incenso queimando mirra. Luz de velas.

As fotografias espalhadas pela mesa, pés descalço no chão frio. Atrás de mim uma criança com seu mundo de poder brincar. Meus braços tremem. Por mais que as coisas estejam organizadas em minha mente, meu corpo dói, meus dentes rangem. Água do lado do mouse. Vai cair.

Cheio de maresia no início da noite. A quem quero falar, molha-se com gotas de chuva. Ele sorri para outras, encanta outras. Será que pensas em mim? De certo que não. A música toma conta do ambiente, biscoito de água e sal.

E quando era criança, gostava de sentar na praia e construir pequenos castelos. Depressa, lá vem a onda. Girando, girando, girando. Felicidade, diz a canção. Concentro-me em pequenos momentos, flashes na minha memória. Amigos distantes, amigos presentes, saudades.

A vida é feita de saudades, amores e decepções. A felicidade rodeia-nos, mas nunca pára. A felicidade trabalha no parque da vida. Ela trabalha na roda do carrossel. Oras passa por mim, mas eu vejo, o amor trabalha do lado oposto, então assim, vai-se a vida.

Descarta-se a memória daquilo que não foi bom. Mas por quê? Creio ser necessário, para futuros novos erros, aqueles que certa vez, correm o risco de virarem acerto. Pois todo mundo joga pra perder, quando ganham, tornam-se surpresos, festejam.

Suor, mosquitos, grama molhada. Pular no mar só para ver se você me nota. Preciso registrar minha existência através das palavras, dos nossos sons, das nossas fotos, dos nossos filmes, através de você, vou sumindo pela longa trilha de terra, água e mar.

Eu, somente eu e mais ninguém. Assim serei. Importa-te com isso?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pascal

Quando renascemos dentro de nós, é sinal de que um novo ciclo começa. Seja ele bom ou ruim, longo ou passageiro, é sempre muito natural. Não nos damos conta de, quanto estávamos diferentes, até que mudemos, de fato.

As pessoas ao redor, nos olham e comentam, talvez faça mais sentido, nos sentir. E é nestas horas que conhecemos nossos sentimentos. Na solidão interior, na busca, na fuga. E quando retornamos, estamos mais felizes, ou não. Mais serenos, ou não. Mais completos, ou o mais próximo disso.

Mudamos nossos ritmos, mudamos o ponto de vista, embora a visão permaneça a mesma. Essência! Eis o que nunca mudará, por mais que tentemos, é única.

No momento em que reciclamos estas questões, reciclamos também nossos laços com o exterior, com o outro. Principalmente porque nós surpreendemos. E esta surpresa gera estranhamento. Até mesmo em nós, pois é justamente nesta hora, em que percebemos tamanha mudança.

Chega o tempo de repensar, então, se valeu à pena, se é real o desejo. Esse renascer que nos renova, mata um pouco do que o outro enxergava em nós. Inevitável. Bom pra você? Bom para o outro? O que mais importa?

E tudo fica como se despertássemos de um coma. Onde os outros nos falam, e não podemos reagir. Pois quando levantamos, tudo está diferente, como se ninguém nos tivesse dito antes, mude! E os sinais foram tão claros, porém, não mudamos.

Ou quando acontece, é justamente pelo excesso de sinais. Alguns se arrependem, voltam atrás, outros seguem, machucam-se, mas insistem por plena teimosia egocêntrica, autoafirmação. Mas será mesmo que os sinais são sempre de fora pra dentro?

Em que momento começamos a sinalizar que queremos mudar? Quando começamos a externar com pequenos atos, palavras e gestos e ninguém nos ouve. Apenas faz de ouvidos moucos, fingem não nos escutar, e tudo vira palavra ao vento.

Agora então, só nos resta arriscar a mudança, tendo certeza ou não, mudamos. Mudemos, arrisquemos. E de preferência, que assumamos nossos tropeços; sem esbarrar num divã. Caso contrário, a terapia perdura por um longo tempo. Apenas tente.