quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Foi a primeira vez...


Agoniada e intensa. Quando as coisas acontecem tão rápido que você não percebe sequer o risco que corre, o melhor a fazer é mergulhar no mar. Pular de fora pra dentro de si, e se jogar no mar.
Fotografias sem sentido, trilha sonora alternativa, parques, jardins com mil flores. Tudo num turbilhão de idéias e imagens surgem agora na mente. Preciso escrever, como se cada palavra me aliviasse uma tonelada. E o ar entrasse cada vez mais em meus pulmões.
Fumaça de cigarro, buzina dos carros, nada que se rime, nada que se limite, apenas os sons de um sorriso agora mudo. Deu lugar as lágrimas e gritos surdos, e tudo ficou (...) Seco!
As pernas que se entrelaçavam na cama, suava e ardia a nuca. Uma língua grossa e macia descia pelo corpo, enquando os dedos se contorciam nos ferros da cama. Poderia ser medo, mas era prazer. E quando era medo sentia-se também prazer em tê-lo. E assim estava vivo, tudo aquilo que jurava ser uma história em mais uma tela de cinema.
A intensidade das palavras fazem a dor latejar no estômago, como uma ulcera mal tratada, que insiste em voltar todas as noites, quandos e está só no quarto escuro. Prefiro nao lembrar. Mas só de preferir, ja estou lembrando. Será mesmo que deve-se esquecer?
Vamos todos agora voltar ao que ainda não veio, como uma roda gigante presa na montanha russa. Uma tsunami de tranquilidade chega a minhas mãos. Foi um parto, nasceu e agora temos de cuidá-lo. Até que o proximo filho venha. Esta foi a primeira vez.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Roubo do Rádio Relógio

Moravam meus pais e eu, numa casa antiga, de corredor longo, quartos grandes, e barulhos noturnos. Os anos iam por volta de 1960, quando ainda eu não era avô. E as crianças gostavam de brincar nas ruas de Salvador, subindo e descendo no velho plano inclinado.

Certa noite, verão quente que crescia, meus pais foram ao cinema, e recomendaram dormir, sem fazer birra ou manha. Medo eu não tinha, mas se soubesse do que viria, choraria pois, a ocasião carecia de fato. Entrei pé a pé, fechando o cadeado grande do portão da rua, correndo pelo corredor longo e jogando-me na cama, debaixo do mosqueteiro velho.

A vela que mamãe deixara acesa, o vento de minha corrida já havia apagado. Ficou apenas eu e o breu da noite, e as sombras de monstro de minha imaginação. Fechei os olhos e tapei-me a cara. Agora era eu, e o silêncio barulhento dos sopros do ocaso.

E de repente pareceu-me gatos no telhado, correndo por toda casa. Gritar eu quis, mas não gritei, tremi o corpo e rezei um Creio Em Deus Pai. Da sala, desceu o barulho na cadeira-de-balanço, roncando velha nos ladrilhos de madeira. Estatelei! Valha-me meu Senhor Jesus, minha Nossa Senhora.

Foi num segundo, que do medo fiz coragem, saltei da cama feito lobo virado e respirei fundo sem ruído. Ia encarar o que fosse, pois menino homem eu já era quase, e valia-me uma aventura na madrugada. Fui até a sala. Pela luz que entrava da avenida la fora, vi o homem grande, de olhos arregalados e roupas suadas, esticando o braço para o rádio-relógio de papai.

Nós dois nos olhando assustados, quando os segundos parecem não ter mais fim, gritei! “Ladrão!”. E ele voltou por onde veio, feito Papai Noel no natal, fugindo pela chaminé, ele subiu na cadeira de balanço e fugiu por entre as telhas velhas do casarão. Continuei em pé na sala, cai no riso, e voltei para cama. Antes de chegar la, meus pais já estavam abrindo o portão la fora.

Contei o caso, mostrei o furo no teto, resolveram perguntar aos vizinhos, mas ninguém tinha visto nada, até mesmo o pescador que passava aquela altura da noite, com seu balaio na cabeça, e seus pés sujos de lama. Sujos de lama!

Chamei papai, mas ele não ouvia entretido conversando com os outros homens da vizinhança, não via que o pescador já era então o ladrão noturno. Seus pés de lama que ficaram gravados no chão da nossa sala, e na cadeira de balanço, denunciavam o gatuno. Precisa eu então, agora homenzinho, fazer alguma coisa.

Calcei as chinelas surradas, de subir e descer a ladeira, e fui cair la na feira da Água de Meninos. Perguntei por quem tinha visto o rádio-relógio, mas ninguém deu noticia do velho. Foi quando eu vi no balaio do pescador enlameado, o ladrão, a ponta do radio pulando pra fora, como quem grita “estou aqui, veja!”. Quando me abaixei para agarrá-lo e correr para casa, aquela mão grande e pesada juntou-se com a voz rouca do dono do bar, e veio também o ar quente com cheiro de pinga, me deixou empapuçado e quase bêbado... Prendi a respiração.

“Larga isso menino, é do peixeiro ali, meu freguês no bar”. Então voltei no rastro de minhas pegadas, ladeira à cima, até a casa de papai. Que já tinha chamado o guarda na pracinha, para averiguar o ocorrido. Notaram então as pegadas de lama, e foi minha vez de ser policial, contando de minha coragem la em baixo na feira. Papai sabia que sério eu estava, não mentiria com cousa tão real e grave. Foram atrás do pescador, e do balaio, trouxeram de volta nosso rádio-rológio, e eu poderia então, ouvir a rádio novela, comendo os bolinhos de peixe que mamãe fazia todo fim de tarde.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Suspiro


Gosto amargo na boca. Mais uma noite perdida em seu sofá de couro branco. Manchas de vinho tinto e restos de comida na mesinha central. Fôlego de fumante é o terror das manhãs de domingo. Precisa de água.

Abre a geladeira, e tem a impressão de que todo mundo cabe em muito gelo e nada de água! Uísque barato de beira de estrada. Mas a dor de cabeça e o enjôo... Não, estava mesmo só e naquela cidade, ninguém poderia interceder.

Tinha apenas vinte anos, mas já penava sob as dores de um mal de amor. Se é que tudo aquilo fora amor de verdade. Não sabia, pois o futuro ainda não trouxe as respostas. Queria apenas cessar a tosse, acender um natural e, observar a fumaça sumir por detrás das cortinas azuis de algodão.

Calor que fervia os miolos, fazendo coágulos de sangue por debaixo de sua pele. Mais uma vez pensou em água, queria um banho. Chuveiro frio, forte e tempo vagaroso. Quase uma bruma... Fechou os olhos e ouviu a porta bater na sala.

Aquela música dos anos setenta, justamente da época em que não se lembrava, pois não havia sequer nascido. O balanço da canção trazia uma saudade do que não se conhecia, do que não existia. E todo espaço fora invadido melancolicamente por aquelas notas sofridas e boas de ouvir.

Fechou o chuveiro, enrolou-se na toalha branca. Pensou que poderia passar os seus últimos dias de vida dentro daquele banheiro frio. Em posição fetal, no chão, como criança que perdeu o rumo do nada, sentia que tudo estava acabado. Ouviu a voz chamar seu nome, tinha pressa. Levantou-se devagar, como quem sentia dores na alma. Pensou talvez que poderia segurar no pulmão o passar dos minutos. Inútil tentativa.

A voz agora gritava nervosa. E dizia verdades de quem também sofria, por erros alheios e irrevogáveis. Estava mesmo tudo findado. Lágrimas não adiantavam. As mãos fugiam, não mais acalmavam. Os braços agitados não cabiam mais no seu abraço. Dor e medo.

Bateu a porta, não disse adeus. Os passos nas escadas selavam o que a mente há tempos já dava sinal. Precisava sumir fechar-se em sua toca, trancar as portas para o mundo e internalizar tudo o que era essencial. Não chorou, gritou. Não penou, agradeceu. Não sorriu, mas criou a sua liberdade depois de sua intensa reflexão. Rabiscou num papel o endereço, deixou as chaves em cima da mesa e saiu. Para nunca mais voltar para aquela voz.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

420 ml de Jardins e Flores


As palavras começam a escorregar da mente, vazam líquidas pelo corpo, escorrem pelos dedos e pingam suaves no teclado frio do meu computador. Alguém me chama pra dançar, a tela brilha. Mais um cigarro, e outro, outro. Um incenso queimando mirra. Luz de velas.

As fotografias espalhadas pela mesa, pés descalço no chão frio. Atrás de mim uma criança com seu mundo de poder brincar. Meus braços tremem. Por mais que as coisas estejam organizadas em minha mente, meu corpo dói, meus dentes rangem. Água do lado do mouse. Vai cair.

Cheio de maresia no início da noite. A quem quero falar, molha-se com gotas de chuva. Ele sorri para outras, encanta outras. Será que pensas em mim? De certo que não. A música toma conta do ambiente, biscoito de água e sal.

E quando era criança, gostava de sentar na praia e construir pequenos castelos. Depressa, lá vem a onda. Girando, girando, girando. Felicidade, diz a canção. Concentro-me em pequenos momentos, flashes na minha memória. Amigos distantes, amigos presentes, saudades.

A vida é feita de saudades, amores e decepções. A felicidade rodeia-nos, mas nunca pára. A felicidade trabalha no parque da vida. Ela trabalha na roda do carrossel. Oras passa por mim, mas eu vejo, o amor trabalha do lado oposto, então assim, vai-se a vida.

Descarta-se a memória daquilo que não foi bom. Mas por quê? Creio ser necessário, para futuros novos erros, aqueles que certa vez, correm o risco de virarem acerto. Pois todo mundo joga pra perder, quando ganham, tornam-se surpresos, festejam.

Suor, mosquitos, grama molhada. Pular no mar só para ver se você me nota. Preciso registrar minha existência através das palavras, dos nossos sons, das nossas fotos, dos nossos filmes, através de você, vou sumindo pela longa trilha de terra, água e mar.

Eu, somente eu e mais ninguém. Assim serei. Importa-te com isso?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pascal

Quando renascemos dentro de nós, é sinal de que um novo ciclo começa. Seja ele bom ou ruim, longo ou passageiro, é sempre muito natural. Não nos damos conta de, quanto estávamos diferentes, até que mudemos, de fato.

As pessoas ao redor, nos olham e comentam, talvez faça mais sentido, nos sentir. E é nestas horas que conhecemos nossos sentimentos. Na solidão interior, na busca, na fuga. E quando retornamos, estamos mais felizes, ou não. Mais serenos, ou não. Mais completos, ou o mais próximo disso.

Mudamos nossos ritmos, mudamos o ponto de vista, embora a visão permaneça a mesma. Essência! Eis o que nunca mudará, por mais que tentemos, é única.

No momento em que reciclamos estas questões, reciclamos também nossos laços com o exterior, com o outro. Principalmente porque nós surpreendemos. E esta surpresa gera estranhamento. Até mesmo em nós, pois é justamente nesta hora, em que percebemos tamanha mudança.

Chega o tempo de repensar, então, se valeu à pena, se é real o desejo. Esse renascer que nos renova, mata um pouco do que o outro enxergava em nós. Inevitável. Bom pra você? Bom para o outro? O que mais importa?

E tudo fica como se despertássemos de um coma. Onde os outros nos falam, e não podemos reagir. Pois quando levantamos, tudo está diferente, como se ninguém nos tivesse dito antes, mude! E os sinais foram tão claros, porém, não mudamos.

Ou quando acontece, é justamente pelo excesso de sinais. Alguns se arrependem, voltam atrás, outros seguem, machucam-se, mas insistem por plena teimosia egocêntrica, autoafirmação. Mas será mesmo que os sinais são sempre de fora pra dentro?

Em que momento começamos a sinalizar que queremos mudar? Quando começamos a externar com pequenos atos, palavras e gestos e ninguém nos ouve. Apenas faz de ouvidos moucos, fingem não nos escutar, e tudo vira palavra ao vento.

Agora então, só nos resta arriscar a mudança, tendo certeza ou não, mudamos. Mudemos, arrisquemos. E de preferência, que assumamos nossos tropeços; sem esbarrar num divã. Caso contrário, a terapia perdura por um longo tempo. Apenas tente.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Num banquinho do pelô

Certa feita estava a conversar com um amigo, enquanto esperava a minha condução para voltar a casa. Ele me dizia que tinha se inscrito em um reality shows, desses que aparecem todo fim de ano na televisão. Querendo ganhar algum dinheiro, mas, principalmente fama, o tal do Manuel (não remetam à personagens de piadas portuguesas) tentava de qualquer forma me convencer a também me inscrever.

- Vamos, é simples: primeiro você pela internet preenche o formulário. Você tem internet não é? Se não tiver, lá mesmo no bairro tem uma casa dessas que paga para ter acesso. Daí cadastra teu e-mail e manda uma fita de vídeo.
- Fita de vídeo? Mas para que se eu já vou preencher uma ficha?
- Vai ver que é porque eles querem ver como tu é, ora!
- Então mando uma foto.
- Foto não, foto não serve. Foto você não pode falar, se explicar.
- Mas isso é um programa ou um depoimento? Pra que me explicar?
- Ah! Você parece que não entende! Manda a fita, eles vão ver tua aparência e quem sabe te chamar. Tu até que é simpático. Mas se for mesmo mandar, faz que nem eu; tinge logo os fios. Vi num filme outro dia, o cara pintou o cabelo e fez maior sucesso onde morava. Matou um traficante e ainda se deu de bem!
- Nossa! Nunca vi matar uma pessoa e ainda se dar bem. Só em filme mesmo.
- Que nada rapaz, existe muito disso. Outro dia, deu naquele programa lá, aquele que mostra os casos de polícia. Deu que um cara que, matou o outro e ainda ganhou presentes da vizinhança.

Então eu começo a me perguntar se esse meu amigo, também não seria capaz de matar para conseguir fama. Como aquele rapaz do ônibus 174, no Rio de Janeiro, há algum tempo atrás. Depois de aparecer na televisão, surgiram depoimentos da tia e de algumas vítimas do seqüestro para dizer que Sandro, só teria feito tudo aquilo para ter seus quinze minutos de fama.
Fui para casa pensando no caminho, enquanto ouvia repetidamente todo o processo de inscrição naquele reality show, em como as pessoas buscam cada vez mais serem famosos, ou ter um status favorável perante a sociedade. E não precisa nem ir muito longe, pode ser até mesmo um daqueles líderes de bairro que se sentem prefeitos só por saberem ler um pouco melhor que os demais. Ou então, meninas que são iludidas com o sonho de ganhar o mundo da moda em grandes passarelas e terminam se prostituindo no exterior.

- E então, vai ou não se inscrever?
- Não, acho melhor não. De repente assistir pela tv é mais interessante.
- E vai perder de ganhar um milhão?
- Quem lhe garante que eu ganharia? Isso é competição ou o que?
- Competição, claro. Mas se você consegue entrar, pode fazer um bom jogo e quem sabe ganhar o prêmio. E mesmo que não ganhe, se tu aparece na TV, com essa tua cara já te contratam para a próxima novela...
- Das seis? Por que novela das oito é coisa pra quem tem família artista, o que não é meu caso.
- Aonde?! Já vi muita figura em novela de primeira vez.
- E já viu algum participante desse tal jogo?
- Não, mas...
- Você já viu alguém que conseguiu algum trabalho fixo por mais de um ano?
- Claro que não. Muitos eu nem ouço mais falar! Nem da cara eu lembro.
- Então pra que eu vou perder tanto tempo em inscrição, jogo e depois ser esquecido e trocado pela próxima celebridade?
- Vale que se tu ganhar, pode até ser esquecido, mas não será mais pobre!
- Pode ser, mas será que vale à pena? Isso é uma loteria Manoel, perceba! Não sei o que é pior, matar traficante pra tentar a fama ou, aparecer na televisão...Olha, meu ponto, até amanhã!
- Até, mas se mudar de idéia me ligue, vou com você preencher a ficha lá pela internet!


[ Viviane Nascimento ]

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Lettre à un lointain.


Conto simultaneamente os segundos que nos restam. O amanhecer traz a certeza de que a vida pode fazer sentido. E que a presença do outro, é mesmo uma bênção.

Ainda quando caminho por entre as folhas secas de um outono quente, percebo que seus passos continuam firmes, ao lado dos meus. Tenho então vontade de chorar. Apenas sorrio.

E com total avidez de segredos revelados, busco dentro dos teus olhos – não somente oblíquos e dissimulados, de cigano que és – encontro o brilho de uma fortaleza, abalada, contudo ainda firme e suntuosa. Músculos no olhar.

A suavidade de seu cheiro, escorregadio em seu suor, é orvalho nos seios de pétalas crescidas entre dois mundos. Flores e espinhos, já não nos pertencem como antes. Apenas o cheiro, as cores e o tom.

Todas as palavras cantadas por sua voz, não são mais belas que as ladainhas entoadas por sertanejos debaixo de sol, em busca de água. São melodias concretas, que batem nos tímpanos, como faca amolada, e berros de gente perdida. Mas as palavras, estas sim, são eternas no livro de minhas memórias.

E o que dizer enfim, de suas mãos tão pouco calejadas, mas que já caminharam por tantas pedras, que nem mesmo o mais rude homem, conseguiria alcançar? Mãos serenas, suas mãos.

Desta forma, esmiuçando assim cada fração do teu ser, compreendo o poder que exerce sobre as outras criaturas. E toda diferença que resta entre os segundos, e o espaço entre eles, do momento em que estamos apenas, você e eu.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Événement


Escorrendo o líquido por entre os dedos, deixe-se queimar e arder num sorriso longo e cheio de som. Espere que o tempo mude seu ponteiro e afogue-se em suas artemanhas. Encontre o momento certo e respire o futuro. Exija mais de si mesmo, quando chegar no fundo de seu mergulho. Enriqueça seus pulmões num voo alto e pleno... abrace! E quando achar que tudo está terminado... Enlouqueça!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Roda


Ninguém me ensinou como viver, e ainda assim, teimosa que sou, vou vivendo. De certo modo, tem dado certo, por fim, ainda não morri.

E quando morrer terei antes, vivido de dor. Dor de amor, dor de dente, dor de cotovelo. Mas não de fome. Porque de fome só se morre uma vez. Morrer mesmo é para se fazer aos pouquinhos... Como num conta-gotas. E dessa fome, meu caro, dessa fome eu quero sempre beliscar algo mais.

Fome de sol e praia, fome de sorrisos, fome de amizades e segredos trocados. Tenho sempre fome de tudo, mas não morro.

E para beber, as gotículas dos nossos dias, degusto com prazer, as dificuldades, os temores, e as variações coloridas que as nuvens fazem no céu. Como é bom beber assim.

Talvez eu aprenda, lá adiante, como é que se vive de verdade. Embora, haja tantas verdades em um só corpo, e grandes universos, em cada pensamento. Mas dessa forma, eu tenho certeza, de que minhas dúvidas, serão sempre dúvidas. Por mais que você pense em respondê-las. Ainda não lhes perguntei, quem mandou pintar o arco-íris com aquelas cores.

Eu teria pintado tudo de vermelho. Com linhas amarelas, outras verdes e uma azul, só pra lembrar que também existe o azul. No final, o lilás daria outro tom, um tom mais casual. Mas não como está. Esta tudo já pintado... Duvidas?

Sobre as crianças, nada tenho a dizer. A não ser que, o nada, é exatamente o real significado das crianças. Nada de mal, nada de bom também. Porque cada criança é o barro que o adulto molda, da forma como ele sempre quis ser, e não foi. Também nunca será. Então, criança não é nada. É tudo.

No final, quando de verdade eu descansar, saberei das verdades dos outros. Dos seus pensamentos que sempre mudam, e de como vemos as fases da lua. Não que a Lua brilhe diferente entre os homens, mas somente por que, cada um a vê de seu ângulo, de sua retina. Mas tudo isso é bobagem! Bonito mesmo é pensar no mar.

O mar ferve calado, e se cala na revolta. Com suas ondas que dançam em nossas praias, o mar vem calmo e nos puxa pelos pés, como uma rasteira sutil, em quem nunca espera a queda. E assim, caímos no mar, louco que somos, rimos e queremos sempre mais.

Se alguém tivesse mesmo me dito antes como viver, eu faria tudo do meu jeito, e ainda assim, estaria errado, e estaria certo também. Vamos experimentar!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

1983


A cabeça gira como roda gigante. Talvez fosse o vinho, mas sei que nesta hora é só saudade. Queima no peito como bala (perdida). preciso de ar.
Naquela tarde, enquanto olhava o mar, lembrei de nossos passos na areia, e de tudo o que você me ensinou. Da criança trazida pelas mãos. pequenas, delicadas... Mãos de criança.
Você deixou-se acreditar que a verdade era a rotina. Ela te engoliu. Absorveu como espuma na areia. Então esqueceu das ondas. Que tudo passa, e as pedras continuam firmes após a ressaca.
Talvez tenha sido seu erro; acreditar. E o que seria de nós, se você não acreditasse? Respiro... Outra taça de vinho.
Agora é a vez do cigarro. Amigo calado que some entre os dedos, e a sinuosa fumaça. No vidro escuro vejo estrelas que não brilham. Estou caindo então,não sinto meus pés! O que me rasga a garganta é o vazio do grito.
Essa nostalgia que percorre o fim do verão, é típica. Prefiro o inverno. Outono ou primavera, mas verão... O verão é sempre triste, por que acaba.
Quando a noite acontece, tudo parece agradecer, por você se esquecer que também vai morrer. De frio, de fome, de dor. Agora poderá me dizer como foi lá... No alto do mundo.
Sabe, queria ter uma aquarela, para pintar esta dor. Teria pincel fino e uma tela pequena. Com tinta vermelha, desenhava seu sorriso, e com faca, traçava no quadrado esta labuta que é viver.
Vou embora qualquer dia. Mas por favor, não te esqueças de mim. Não te esqueças do mar, e apenas viva o verão.