quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

1983


A cabeça gira como roda gigante. Talvez fosse o vinho, mas sei que nesta hora é só saudade. Queima no peito como bala (perdida). preciso de ar.
Naquela tarde, enquanto olhava o mar, lembrei de nossos passos na areia, e de tudo o que você me ensinou. Da criança trazida pelas mãos. pequenas, delicadas... Mãos de criança.
Você deixou-se acreditar que a verdade era a rotina. Ela te engoliu. Absorveu como espuma na areia. Então esqueceu das ondas. Que tudo passa, e as pedras continuam firmes após a ressaca.
Talvez tenha sido seu erro; acreditar. E o que seria de nós, se você não acreditasse? Respiro... Outra taça de vinho.
Agora é a vez do cigarro. Amigo calado que some entre os dedos, e a sinuosa fumaça. No vidro escuro vejo estrelas que não brilham. Estou caindo então,não sinto meus pés! O que me rasga a garganta é o vazio do grito.
Essa nostalgia que percorre o fim do verão, é típica. Prefiro o inverno. Outono ou primavera, mas verão... O verão é sempre triste, por que acaba.
Quando a noite acontece, tudo parece agradecer, por você se esquecer que também vai morrer. De frio, de fome, de dor. Agora poderá me dizer como foi lá... No alto do mundo.
Sabe, queria ter uma aquarela, para pintar esta dor. Teria pincel fino e uma tela pequena. Com tinta vermelha, desenhava seu sorriso, e com faca, traçava no quadrado esta labuta que é viver.
Vou embora qualquer dia. Mas por favor, não te esqueças de mim. Não te esqueças do mar, e apenas viva o verão.

3 comentários:

Unknown disse...

"O verão é sempre triste, por que acaba".

Concordo... sempre irá fazer falta!!, preenche a gente de felicidade, esquecemos de todos os problemas, sentimos um cheirinho de alívio em nossas mentes, quando acaba, só há lembranças do quanto foi bom e o "porque" não podería continuar pelo resto de nossas vidas...

Excelente texto Vivi!! ^^

Tila Miranda disse...

Sabe aqueles filmes junky em que a heroina corroi o ser humano de ponta a ponta e o cigarro fica lá, fazendo seu papel de espera ? E então movem os pés, as mãos, a mente sem parar. É isso aí que é a saudade, minha cara. A saudade agarrada ao amor. A mais pura heroina.

Rafael Loiola disse...

A que se deve o aplauso, se não para concordar?

E talvez seja a concordancia o erro dos fracos...

Nao te aplaudo, te abraço, parabenizo, confraternizo e, contigo, choro.

um beijo.